Ensino das lutas: dos princípios condicionais aos grupos
situacionais
Mariana Simões Pimentel Gomes
Marcia Pereira Morato
Edison Duarte
José Júlio Gavião de Almeida
A luta nas suas diferentes civilizações seja ela oriental
ou ocidental já teve vários significados como rito, prática religiosa, jogo,
preparação para guerra, exercício físico, dentre outros. (Gomes cita os
seguintes autores: Brousse, Villamón, Molina, 1999; Espartero, 1999; Villamón,
Brousse, 2002; Villamón, Molina, 1999).
Devido a uma gama infinita de movimentos, técnicas e
características, classificamos as lutas de acordo com os objetivos do combate,
ações motoras, distâncias entre os oponentes, metas no enfrentamento. Para
Espartero (1999) classificar as lutas promove uma organização de elementos e
categorias o que ajuda na escolha da modalidade mais adequada para se aplicar.
As
lutas e suas classificações
Espartero (1999) nos mostra que as lutas podem ser
divididas em três categorias:
1. Esportes
de lutas com agarre: O agarre seria uma ação básica como derrubada (derribo),
as projeções (Proyecciones) e o controle no solo. Pode ser subdividida pela
imposição do agarre ou da não imposição do agarre como também pela finalidade
“lutatória”: finalizar a luta com a projeção do oponente ao solo ou continua-la
depois da projeção.
2. Esportes
de Lutas com golpes: Está é subdividida de acordo com o tipo de golpe: apenas
punhos; apenas pernas; ou pernas e mãos conjuntamente.
3. Esportes
de lutas com implementos: onde o objetivo e tocar o oponente com o implemente
por exemplo a espada.
Se pensarmos num contexto de treino para competições a proposta
apresenta uma riqueza de detalhes que tende a influenciar no desenvolvimento
das modalidades, já para o contexto escolar em que os objetivos são
proporcionar vivencia e o conhecimento do fenômeno e suas manifestações ao
aluno considerar tantos detalhes para a classificação das lutas tende a
dificultar o processo uma vez que as diferenças enfatizam as especifidades do
conteúdo (GOMES, 2008).
Henares (2000) divide as ações motoras de um combate em
derrubar, golpear e tocar. No primeiro grupo ele também subdivide o que seria
o agarre para Espartero (1999),
adicionando ao desequilibrar/derrubar ações como fixar, excluir e controlar,
também citadas pro Ramirez, Dopico e Iglesias (2000).
Nakamoto et. Al. (2004), baseados em autores dos JDC
(Jogos Desportivos Coletivos) como ( BAYER, 1994; GARGANTA, 1995; GRAÇA, 1995;
TAVARES, 1995), consideram a luta uma categoria de jogo regida pela lógica de
oposição que possui como característica o ataque e a defesa e a possibilidades
de ataques simultâneos.
Os princípios
Condicionais
O modelo proposto por BAYER (1994) foi fundamental para
buscar denominadores comuns também para o fenômeno luta, estes denominadores
são aqui chamados de Princípios Condicionais da Luta:
o
Contato Proposital: este deve acontecer para que
haja luta e para que ela se desenvolva. Este principio condicional exige que os
oponentes se toquem seja por meio das mãos, pernas, corpo inteiro ou mediado
por implemento.
o
Fusão Ataque/Defesa: assim como em outros
esportes na Luta também é preciso ataque e defesa. O que difere as Lutas do
outros esportes e que nela o ataque e defesa podem ocorre simultaneamente, pois
o lutador pode defender com os braços e atacar com as pernas, já nos outros
esportes e impossível q os dois ocorram simultaneamente pela mesma equipe.
o
Imprevisibilidade: Não existe estratégia
sequencial completamente previsível na luta já que as ações do lutador podem ou
não ser resposta à ação do adversário. Esta imprevisibilidade faz com que o
pensar a luta seja tão importante quanto o realizar a ação na luta.
o
Oponente/Alvo: Isto implica que o alvo além
de ser móvel pode efetuar ataque e defesa. E essa condição de torna o contato
uma exigência e que fundamenta a imprevisibilidade do combate. Com o alvo
personificado no adversário, a luta se torna imprevisível.
o
Regras: Existem desde as primeiras
manifestações de lutas sendo elas sociais politicas ou éticas. As lutas
dependem deste principio básico para serem legitimas, são as regras que vão
dizer se para atingir o alvo e permitido apenas uso das mãos, pernas, implemento,
etc.
Portanto são as regras que determinam
técnicas e táticas de cada modalidade(MORATO, 2007; TAVARES, 2002).
Então é assim que a partir dos princípios básicos podemos
criar e legitimar inúmeras práticas como parte do conhecimento Luta o que torna
esse universo ainda mais amplo e possível de ser ensinado.
Das
especificidades aos princípios comuns
Mesmo com princípios condicionais, existem fatores que
diferenciam uma modalidade da outra ou uma única modalidade com várias vertentes.
Porem a dinâmica interna e algumas técnicas muitas vezes podem ser comuns a de
outras modalidades.
Algumas habilidades são recorrentes no repertório de
varias modalidades como a projeção existente no judô, Jiu jitsu, Luta livre que
dependem do agarre para sua execução. Com isso o aprendizado de um golpe
especifico de uma modalidade pode facilitar a realização de outra habilidade
semelhante em outra luta.
Distancias
Uma modalidade de curta distancia possui um espaço
praticamente nulo entre os oponentes e para a realização das técnicas é
necessário que os adversários se ponham em contato direto.
A média distancia é um espaço moderado que permite a
aproximação em situações de ataque, pois a distancia e o proposito ofensivo vão
determinar a distancia entre os lutadores. Os golpes caracterizam o contato e
não dependem dele para acontecer com na curta distancia.
Já na longa distancia definida pela presença de
implemento deve haver um espaço maior entre os oponentes para que os mesmos
possam manipular de forma adequada o implemento fazendo que o contato ocorra
através da espada.
A classificação a seguir mostra como deve ser o contato
na luta, de acordo com a distancia e consequentemente a situação mais
corriqueira em cada grupo.
O sistema seguinte representa Gomes
nos trás a complexidade de interações entre os elementos do Fenômeno Lutas e
suas manifestações. Desta forma, é possível transcender a linearidade das
classificações apresentadas, pensando num ensino global que enfatize os
princípios condicionais das Lutas e os aspectos comuns entre as modalidades na
iniciação, organizados pela distância entre oponentes (curta, média e longa),
antes de ensinar as especificidades das modalidades tradicionais de luta.
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